sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Partir do Côa

Estação ferroviária de Foz Tua, Linha do Douro. 2012

Vale do Côa, regresso [13]. O vale gravado do Côa pode ser hoje o ponto de partida para uma grande viagem, onde como que se encontram os grande problemas e desafios do Portugal contemporâneo, e da gestão do território de uma Nação. Não longe daqui há outros vales imponentes, como sejam os do rio Sabor ou do rio Tua e, sobretudo, o entalhe vertiginoso do Douro, espinha dorsal de uma região vasta, que para montante do Côa vai progressivamente assumindo uma dimensão ímpar. Num contexto alargado o vale do Côa é como que o centro arcaico de um movimento de apropriação da paisagem que deixou marcas em todos os períodos históricos e que ainda hoje não terminou. Hoje, nas vilas e cidades de interior, como Vila Nova de Foz Côa, não deixam de se construir edifícios públicos, complexos desportivos, salas de congressos, pavilhões de exposições. Luta-se, com o betão, contra a perda sistemática de população, contra o adormecimento e abandono de uma paisagem vastíssima. Abandonam-se terras pobres e secas, deixa-se a luta milenar pela edificação de uma cultura. Foge-se para o conforto, muitas vezes ilusório, das grandes cidades, para a integração na magna urbe onde, em fusões e contaminações de hábitos e fazeres, se define a contemporaneidade. Talvez seja o futuro precário de todos nós, de uma sociedade onde procuramos estar integrados, construir a nossa casa, criar um imaginário de referências, de valores, numa abstração por vezes criativa, mas quase sempre esmagadora da individualidade, ou identidade, de cada um dos seus cidadãos.

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