quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ponte do Diabo

[Linha do Tua 38] Prosseguimos a viagem rumo a norte e o vale torna a estreitar-se, mas apenas ao longo de uma pequena extensão. Pouco depois de passarmos sob a ponte de arco em betão armado, encontramos, mais abaixo, perto do rio, vestígios de uma outra ponte, antiga, feita em pedra, de que hoje apenas são visíveis os alicerces. Este seria, desde tempos remotos, um local privilegiado de atravessamento do rio. A ponte ficou arruinada depois de uma cheia do rio em 1909. Terá sido construída, provavelmente, durante a Baixa Idade Média e era conhecida como a «Ponte do Diabo» – não por referência a essa temida figura do universo cristão, mas em alusão a Manuel Machado de Araújo, que o povo de Abreiro associava ao Demónio, pela exigência e severidade que, em finais do século xix, empregava no trato com os seus assalariados. Logo após estas pontes, o vale volta novamente a fechar-se em margens apertadas; no entanto, os desníveis, em relação ao topo dos montes, já não são tão acentuados como o eram a jusante. Ao quilómetro 32, a linha ferroviária deixa definitivamente o vale estreito e a paisagem marcada pelos colossais fraguedos das suas margens. Os declives muito acentuados, que chegavam a atingir os 500 metros, passam a ser consideravelmente mais suaves e a paisagem assume características bastante diferentes. Numa área onde dominava o granito de cor cinzenta e um reduzido uso do solo, onde predominava o pinhal e o seu verde perene, aparecem agora paisagens marcadas por uma utilização agrícola mais intensiva. A densidade populacional, em consequência da maior fertilidade do solo, também cresce, e aumenta o número de povoações. Mas ainda parece estarmos longe de entrar nas terras de Mirandela, com os seus cabeços de xisto arredondados, ocupados pelas culturas cerealíferas e pelo olival.
Ponte do Diabo. 2008
 



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