terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A noite

[tinta e pó_02] Ao fim do dia procuramos um local para a pernoita. Deitamo-nos sobre o solo. A luz é tomada pela noite. Escuridão que se vai revelando num imenso detalhe, que abre novas portas para outras dimensões de tempo e pensamento. Ouvimos o mar, talvez um avião a passar, corre uma brisa suave, temperada. Não tarda a sentir-se a humidade do ar. Nas horas que se seguem se, pontualmente, abrirmos os olhos, observamos a rotação da Terra na Via Láctea. A 'abóbada' celeste revela um número ilimitado de pontos luminosos. Estrelas ao redor das quais outros mundos podem existir. Fechamos os olhos. Um universo de lugares em expansão está dentro de nós. Desenhamos viagens imaginárias em distâncias indeterminadas. Percorremos lugares de memórias dispersas. Trazemos um espaço imenso dentro de nós. Como se, de novo, atravessássemos a montanha nevada, a floresta densa, quase impenetrável, ruídos de aves dispersos pelo tempo, o grande rio que transporta enormes penedos polidos, as paisagens cársicas a fazerem lembrar a ossatura de um animal gigante, os mares interiores, a extensa planície, uma última colina para observarmos o oceano, claro, luminoso. Durante o caminho, pontualmente, atravessavamos as cidades, povoadas de faces desconhecidas, de uma cultura dispersa, fragmentada, evolutiva, milenar. Há uma realidade de que nos parecemos aproximar, mas que, constantemente nos escapa. Uma intuição. Talvez nada. O Sol nasce. Continuar a caminhar.
 
Arez (prox.). Nisa. 2014
 

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