segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Despir

[tinta e pó_08] Há, num arquivo extenso, uma vertigem, a sensação de que há algo oculto de que nos vamos aproximando. As fotografias, quando despidas de uma certa plasticidade inebriante, de um belo-fácil, quando de dispõem em conjuntos alargados, estabelecem teias de conexões múltiplas com o leitor/observador. Há a consciência progressiva de uma extensão enorme, particularmente quando o arquivo é vivo, quando é regularmente alimentado de novas imagens, que em certa medida, tentam completar lacunas. É o mesmo 'ilimitado' que experienciamos com o movimento sobre a Terra, que, em boa verdade, é infinito e indefinido, pois está associado à dimensão tempo, que faz com que os lugares estejam diferentes no segundo momento em que os visitamos. À medida que as recolhas de imagem se vão estendendo a um território mais vasto, maior a sensação do seu sentido de ‘sem-limite’, como se estivéssemos a desfocar a nossa própria capacidade de compreensão, num movimento, aparentemente, auto-destrutivo, por tender para um aumento exponencial de entropia. Há um limiar difuso entre a lucidez e o colapso, entre o discernimento e o bloqueio, que é tão sedutor, quanto arriscado. Poderá haver um sentido de perda, mas também a noção da dureza e do fascínio da vida, da ausência de consciência numa integração cósmica, fim de algumas das principais angústias humanas, o esplendor da vida em toda a sua ausência de sentido, como que o reflexo absurdo da guerra, da sobrevivência extrema.
Antigas minas. Segura. Idanha-a-Nova. 2014

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